'Superamos a gestão passada em termos de injeção de recursos'

19/07/2021

Diretora-presidente da Agência de Fomento do RN, Márcia Maia comemora resultados alcançados e destaca metas para o futuro.

Foto: Maricelio Almeida
Foto: Maricelio Almeida

Por Maricelio Almeida/JORNAL DE FATO

A ex-deputada estadual e atual diretora-presidente da Agência de Fomento do Rio Grande do Norte (AGN/RN), Márcia Maia, cumpriu agenda em Mossoró e região na última sexta-feira, 16. Entre um compromisso e outro na segunda maior cidade do estado, ela conversou longamente com a reportagem do JORNAL DE FATO, conversa que você confere a seguir, na íntegra, na seção "Cafezinho com César Santos" desta semana.

Entre os assuntos abordados na entrevista, um balanço da gestão da ex-deputada à frente da AGN até aqui, com destaque para os volumosos recursos injetados na economia potiguar por meio de financiamentos e novas linhas de crédito criadas pela Agência de Fomento, a possibilidade de Márcia Maia disputar um novo mandato eletivo em 2022, o que não está descartado, e temas como a CPI da Covid e a relação da presidente da AGN com o seu partido atual, o PSDB. Acompanhe.

Qual é a avaliação que a senhora faz da sua gestão à frente da AGN até aqui? Que metas a senhora conseguiu cumprir até o momento?

Em primeiro lugar, quero dizer que assumir a Agência de Fomento representou um grande desafio na minha vida. Eu nunca tinha assumido uma instituição financeira de fomento à economia local. Também fui a primeira mulher a assumir a presidência da Agência de Fomento nos seus 21 anos de existência, então de certa forma estou também servindo de exemplo, até porque nós sabemos que esse setor da economia, da sociedade, é um ambiente muito mais masculino do que feminino, então pra mim representou esse desafio também, mas um desafio que tem sido muito bom. Eu me identifiquei bastante, até porque eu já tinha sido gestora da área do trabalho, tanto em nível estadual como municipal, e sempre trabalhei com os dados do CAGED, com a avaliação em relação a índice de desemprego, geração de emprego e renda, e aí ser presidente de uma agência de fomento, uma das metas é apoiar o empreendedorismo no fomento à economia local e isso me deu uma satisfação muito grande de poder, através da agência, apoiar, sobretudo os pequenos empreendedores do Rio Grande do Norte. A avaliação é extremamente positiva. Até agora a gente vem não só cumprindo as metas estabelecidas no planejamento estratégico da ANG, mas a gente vem superando essas expectativas.

Que metas foram essas?

No ano de 2019, por exemplo, estava previsto de acordo com nosso planejamento estratégico, injetar na economia do Estado R$ 15 milhões no apoio aos empreendedores do Rio Grande do Norte. Nós conseguimos superar isso, injetando quase R$ 19 milhões no primeiro ano. Em 2020, nós imaginávamos pelo menos repetir 2019, foi um ano extremamente difícil, um ano pandêmico, e nós injetamos na economia mais de R$ 30 milhões, a gente dobrou a meta do planejamento estratégico.

A que a senhora atribui esses resultados?

Ao momento de dificuldade, porque com a pandemia, com a crise sanitária mundial, a gente também passou, e continuamos vivenciando hoje, uma crise econômica em razão dessa crise sanitária. Com a paralisação de diversos setores da economia, comércio, serviços, os empreendedores, sobretudo aqueles pequenos empreendedores, eles usaram a reserva que tinham e depois ficaram realmente precisando de recursos pra capital de giro, pra investimento, às vezes até pra mudar a atividade, porque as atividades que desenvolviam ficaram totalmente paralisadas, como, por exemplo, o setor de turismo, o setor de eventos, setor de cultura, e com isso esses empreendedores precisaram de crédito.

É aí que a AGN entra em atuação...

A AGN é uma instituição financeira de fomento à economia e que concede financiamentos através das suas linhas de crédito; são vários produtos que nós temos em relação à linha de crédito. A própria AGN também se esforçou pra atender esse empreendedor, tomando várias medidas, como prorrogação de parcelamentos, dos financiamentos, medidas como, por exemplo, colocar carência no microcrédito, porque o microcrédito não tem carência, mas colocamos carência para os setores de comércio e serviço, agricultura familiar, carência para área de cultura, eventos e turismo, e aí uma aparência maior: aumentamos o limite de crédito também, porque a gente viu que aquele valor não ia atender às necessidades do empreendedor, então aumentamos o limite, tomamos várias medidas através de resoluções internas da agência.

A possibilidade do empreendedor não pagar juros também é um diferencial, não é isso?

Exatamente. A AGN é a única instituição financeira do Rio Grande do Norte que tem esse diferencial, que é o bônus da adimplência. Se o empreendedor paga a sua parcela até aquela data de vencimento, ele tem um desconto de 100% dos juros, e isso só é possível graças a um fundo garantidor, a uma lei que permite que o Governo possa, digamos assim, compensar a agência em relação aos juros, mas o cliente ele não paga absolutamente nada de juros, ele tem um desconto de 100%. Então se ele consegue um financiamento de R$ 6 mil, ele vai devolver apenas esses R$ 6 mil; é como se ele estivesse tomando empréstimo de uma pessoa da família, de um pai, de um irmão, enfim de uma pessoa que não vai cobrar juros nenhum. Isso realmente não existe dentro do mercado financeiro, somente no Rio Grande do Norte, na agência de fomento, porque o objetivo da agência não é conceder financiamento e lucrar com isso, o objetivo da agência é fomentar a economia local, é fortalecer a economia de cada município do Rio Grande do Norte.

Quantos empreendedores estão sendo atendimentos, em média, por ano, pela AGN atualmente?

Olha, a gente já superou e muito, nesses dois anos da nossa gestão na AGN, na gestão da governadora, professora Fátima Bezerra, nós superamos os quatro anos da gestão passada em termos de injeção de recursos, de número de operações, atendendo a seis, sete mil empreendedores por ano, e diversificando os setores da economia. Eu quero também abrir esse parêntese, dizer que a AGN nessa nova gestão, que estou à frente, a gente começou a levar o crédito aonde nunca o crédito chegou, por exemplo, nas comunidades rurais, nos assentamentos, nas comunidades quilombolas. Nós desenvolvemos, criamos uma linha especial de crédito para agricultura familiar e fizemos uma parceria com a Sedraf, com cooperativas de agricultura familiar, com associações, com o envolvimento da Emater, enfim, crédito orientado para agricultura familiar.

E tem apresentado resultados positivos essa linha de crédito especial?

Muitas instituições de fomento no Brasil não financiavam a agricultura familiar achando que esse setor não ia conseguir ficar adimplente, mas a gente viu o contrário, é praticamente sem inadimplência as nossas operações para a agricultura familiar, por quê? Porque existe um acompanhamento, uma orientação, existe uma avaliação permanente também junto à agricultura familiar, então nós conseguimos fazer isso, trabalhar também as empreendedoras, mulheres. Dos nossos clientes, nós temos 60% de mulheres. Nós estimulamos inclusive o empreendedorismo feminino, porque as mulheres, por exemplo, que sofrem violência doméstica, muitas vezes elas deixam de denunciar os agressores porque dependem economicamente dos seus agressores. A autonomia feminina é muito importante, para ela ter mais autoestima, a satisfação de realização profissional e assim por diante.

Fale um pouco também sobre o CredJovem...

O CredJovem é uma linha dentro do microcrédito direcionada para a juventude empreendedora, e isso também em parceria com a Subsecretaria de Juventude do Governo do Estado. A gente também está oferecendo crédito para a economia solidária, numa articulação com a Secretaria de Trabalho, Habitação e Assistência Social. Então dentro do Governo da professora Fátima a gente procura se articular, levando crédito para todos os setores da sociedade que tem necessidade de crédito. Claro que só busca o crédito quem tem realmente necessidade, e a gente a fazer também parcerias importantes para que o crédito seja orientado, para que ele não se prejudique com o crédito. Se ele está buscando os recursos porque não está conseguindo fazer uma boa gestão do seu negócio, ele precisa primeiro fazer a boa gestão do seu negócio para depois realmente analisar se precisa de crédito ou não. A gente busca também parceria com o Sebrae, por exemplo. Estamos, inclusive, colocando técnicos nossos no Sebrae diariamente para que a gente possa também já oferecer o financiamento para o empreendedor que busca uma orientação do Sebrae.

E quais as metas para o futuro da AGN?

Queremos ampliar o nosso crédito para a agricultura familiar. Nós queremos também oferecer pelo nosso canal do YouTube videoaulas para os nossos clientes, colocando aulas sobre gestão de negócios, gestão financeira, acesso ao crédito. Também acabamos de desenvolver uma plataforma para democratizar o acesso ao crédito, criada pela própria gerência de tecnologia, por um colaborador nosso, o jovem Luiz Brito, que desenvolveu essa plataforma, uma espécie de aplicativo, não é exatamente um aplicativo, porque a pessoa não precisa baixar no seu celular, é só entrar no site da AGN e clicar na aba RN+Crédito, e já vai direcionar para uma plataforma onde ele vai se cadastrar, vai criar uma senha e vai começar a responder aquilo que a plataforma solicita. Isso é muito novo. Essa é uma forma de acesso também para que o empreendedor não precise de sair do seu trabalho ou de casa, para conseguir acessar o crédito.

A AGN também conta com uma série de parceiros. Aqui em Mossoró, por exemplo, um desses parceiros de destaque é a ACIM...

Os parceiros são muito importantes. Em Mossoró, a gente tem a parceria com a Associação Comercial e Industrial, liderada pelo nosso querido Vilmar Pereira, que é conselheiro do Sebrae, é meu colega lá, porque também sou conselheira do Sebrae, e ele ofereceu toda estrutura da ACIM pra gente ter esse ponto de apoio aqui em Mossoró. Todo o espaço físico, colaboradores da ACIM. As pessoas podem ir presencialmente à sede da Associação pegar informações, receber orientações das pessoas que foram treinadas e capacitadas pela Agência de Fomento. Essas parcerias locais também são importantes. Há municípios que a gente tem parceria com CDL, município que a gente tem parceria com Prefeituras, com secretarias de Desenvolvimento Econômico, com o próprio Sindicato dos Trabalhadores Rurais, associações e assim por diante. Esses parceiros são importantes pra gente avançar cada vez mais nesse trabalho de chegar próximo ao empreendedor e atender as necessidades do empreendedor.

Qual o valor investido pela AGN aqui em Mossoró, durante a gestão da senhora até aqui?

Aqui em Mossoró, as antes de fazer a parceria, a gente tinha uma presença muito tímida, uma demanda mais espontânea, não tinha um ponto de apoio, então isso dificultava o acesso ao crédito. Conseguimos agora ampliar essa presença, com a parceria da ACIM. A gente já injetou na economia local mais de R$ 1,6 milhão aqui em Mossoró, atendendo quase 300 empreendedores. Com certeza, com tudo que estamos fazendo pra facilitar o acesso ao crédito, a gente pode ter um aumento significativo aqui em Mossoró em relação a esses financiamentos. Vou dá um exemplo de Apodi. Começamos em 2019 a operar com o CDL daquele município. Lá a gente já financiou R$ 3 milhões. No estado, são mais de R$ 60 milhões injetamos na economia no estado nesses dois anos e meio que nós estamos à frente da Agência de Fomento.

Vamos falar agora um pouquinho sobre política. O grupo político do qual a senhora faz parte, que era liderado pela ex-governadora Wilma de Faria, hoje não possui nenhum mandato. A senhora tem o desejo de retornar à Assembleia Legislativa. Quais são os projetos políticos da ex-deputada Márcia Maia para 2022?

Olha, eu por enquanto estou muito focada na gestão da Agência de Fomento. Claro que se eu for convocada, convidada para disputar um mandato, eu estou à disposição da sociedade, à disposição do povo potiguar, mas estou muito feliz de, hoje, mesmo sem mandato, mas com uma missão extremamente importante. Estou muito realizada de poder fazer parte da equipe da governadora professora Fátima Bezerra, estou totalmente integrada à equipe, fazendo com que a AGN possa ajudar o estado, principalmente nesse momento tão difícil para todos. A gente procura também acompanhar os resultados desses investimentos na economia, ver como está o empreendedor, se ele está conseguindo prosperidade na sua atividade, não interessa só a concessão do crédito, interessa saber se ele está melhorando sua qualidade de vida. A gente não tem tido tempo pra conversar sobre política. A governadora está muito focada na gestão do governo. No momento certo, que esse momento deve ser em 2022, nós vamos estar à disposição pra conversar sobre política sim.

A senhora hoje é filiada ao PSDB, partido do presidente da Assembleia, deputado Ezequiel Ferreira. O Governo do Estado enfrenta hoje a CPI da Covid, Comissão essa cuja instalação foi articulada a partir de denúncias feitas pelo deputado Gustavo Carvalho, que é também do PSDB. Na visão da senhora, o PSDB hoje é oposição ou situação à gestão Fátima Bezerra?

Nesse momento, como eu estou muito voltada para a gestão da AGN, estou totalmente afastada do partido. Não tenho acompanhado reuniões, nem encontros do partido, estou completamente afastada, e dedicada a minha missão, que eu acho que ela é muito importante nesse momento. Na minha opinião, acho que não deveria ter CPI da Covid. O Rio Grande do Norte é o único estado do Brasil que vai ter CPI da Covid. O Rio Grande do Norte tem um secretário, gestor da saúde extremamente competente, capaz tecnicamente, totalmente dedicado, um homem honrado, um homem sério. Se você for analisar as avaliações que são feitas pelo Tribunal de Contas, os índices de transparência, o Rio Grande do Norte está em lugar privilegiado em relação à transparência dos recursos aplicados na pandemia, tanto os recebidos pelo Governo Federal como aqueles aplicados diretamente pelo tesouro estadual. Não há, na minha opinião, necessidade dessa CPI.

É uma CPI injusta, então, na avaliação da senhora?

Injusta, na minha opinião. Que a Assembleia fiscalizasse. Por que não fiscaliza? Qual é a missão do Poder Legislativo? É fiscalizar também os atos do Poder Executivo. Eu estive, enquanto parlamentar, na situação e na oposição, mas era uma oposição responsável, uma posição construtiva também. Se há alguma dúvida peça documentos, convoca o secretário de Saúde, peça explicações, para depois então, se não houver satisfação em relação ao que foi mostrado, aí poderia se pensar numa CPI, se houvesse realmente motivo. Na minha opinião, não existe sentido a CPI da Covid. Eu acho também que muitas vezes se utiliza de uma CPI para tentar ter discurso, pra tentar fragilizar o governo. O governo da professora Fátima tem buscado de todas as formas atender as necessidades da população, ela que pegou o governo numa situação dificílima.

Com quatro folhas salariais em atraso...

Isso. Quatro folhas de salários atrasados, com fornecedores sem receber nada, uma crise fiscal e financeira imensa e olha o que ela está conseguindo fazer, está conseguindo atualizar o salário do servidor público, está conseguindo levar as políticas públicas à população, mesmo tendo muitas dificuldades no Governo Federal, conduzido por um presidente pelo qual tenho muitas restrições em relação a sua conduta, e a gente sabe que não é fácil conseguir recursos quando existe essa polarização grande no Brasil, mas, em que pese tudo isso, a governadora tem sempre atitudes republicanas e tem tentado sim, e conseguido recursos para o Rio Grande do Norte, e aplicado bem esses recursos, com transparência e com muita competência.

Para finalizar, a senhora estuda a possibilidade de se desfiliar do PSDB, buscar outra sigla para disputar o pleito de 2022?

Estou afastada do partido porque estou focada na missão que eu recebi da governadora Fátima Bezerra, mas eu vou conversar com o presidente Ezequiel Ferreira, vou conversar com ele, e não quero adiantar nada agora, mas no momento estou focada completamente nessa missão que a governadora me confiou.