Cicília Maia: “Queremos construir uma universidade mais justa”

17/05/2021

Reitora eleita da Uern destaca as metas de sua gestão e reforça que a busca pela autonomia financeira da Uern é uma de suas prioridades. 

Foto: Cedida
Foto: Cedida

Por Maricelio Almeida - JORNAL DE FATO

No último dia 10, a professora Cicília Maia foi eleita reitora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), ao lado do professor Chico Dantas. A expressiva vitória conquistada no pleito consolida o nome de Cicília como um dos principais nomes da instituição de ensino que celebra em setembro próximo 52 anos de existência. Egressa da Uern, a reitora eleita, mais do que ninguém, é exemplo de como a educação forma e transforma.

Na entrevista desta semana da seção "Cafezinho com César Santos", Cicília Maia destaca as metas de sua gestão, que será iniciada em setembro, reforça que a busca pela autonomia financeira da Uern é uma de suas prioridades, fala sobre o planejamento para o retorno futuro das aulas presenciais e revela qual o legado quer deixar para Uern. Acompanhe.

Reitora eleita, parabéns pela expressiva vitória. A gente começa perguntando justamente sobre o resultado. A senhora esperava vencer em todos os segmentos da comunidade acadêmica? E esperava esse percentual tão significativo?

Estamos muito felizes eu e o professor Chico (vice-reitor eleito) pelo resultado da eleição. Uma vitória histórica, representativa e expressiva. Acreditamos que a comunidade expressou sua vontade escolhendo democraticamente aquele projeto que considerou melhor para os próximos anos de gestão da Uern. A vitória nos três segmentos acadêmicos, com 66,37% dos votos, no nosso caso, e 65,13%, na escolha do professor Chico, nos revela que a comunidade reconheceu nosso trabalho, a nossa trajetória e a nossa dedicação e amor pela Uern. Confiávamos em um resultado positivo, mas os números finais nos deixaram ainda mais felizes e honrados. Aproveito para agradecer, primeiramente, a Deus, às nossas famílias e à nossa a comunidade uerniana. A cada estudante, técnicos, técnicas e docentes, que decidiram por Cicilia e Chico.

O resultado mostra que a chapa eleita sairia vitoriosa em qualquer modelo de votação...

Com os números finais, a comunidade nos mostrou que sairíamos vitoriosos em qualquer modelo de votação, fosse ele universal, paritário ou proporcional. Com esse resultado histórico e ter também a chancela dos nossos estudantes aumenta a nossa responsabilidade de conduzir a nossa instituição. Temos a certeza que com o diálogo, trabalho e união de nossa comunidade vamos fazer uma Uern maior e mais forte. Teremos a força da nossa comunidade para executar o Programa de Gestão que foi construído de forma democrática e colaborativa no momento de nossa pré-campanha e durante a campanha. Isso nos energiza da melhor forma possível. Seguiremos juntos em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade e em prol do desenvolvimento do nosso estado.

A senhora é filha da Uern e faz questão de sempre reforçar essa ligação com a universidade. O que a Uern representa para a senhora?

Tudo o que me tornei tem muito da Uern. Esse momento representa a chegada de uma egressa da Uern, mulher, de origem humilde, de perfil estritamente acadêmico, ao posto mais alto da instituição. Um mérito possibilitado pela própria transformação através da educação pública. Com o sentimento de gratidão e orgulho à Uern chego a essa cadeira com o dever e com o compromisso de fazer mais e impactar pessoas e cenários utilizando este poderoso instrumento de transformação que é a Educação.

O pleito deste ano foi atípico. As eleições foram judicializadas e precisaram ser adiadas. No dia do pleito tivemos ainda um atraso na divulgação do resultado. Apesar dos percalços, a senhora acredita que esse processo trouxe lições positivas? É possível que esse modelo de votação seja mantido, por exemplo?

Estamos vivendo em um cenário de pandemia onde estamos nos redescobrindo a cada dia. O contexto das eleições nos mostra que a cada dia podemos tirar lições importantes. Diante da necessidade da manutenção do distanciamento social, pela questão da pandemia, o Conselho Universitário (CONSUNI) definiu que a consulta à comunidade seria feita de forma virtual. Isso aconteceu pela primeira vez na história da Uern. Com isso o Consuni constituiu comissão eleitoral para conduzir todo o processo, o que ocorreu. Mesmo com as situações ocorridas - suspensão do pleito por medida judicial, acredito que, no final, venceu a democracia. Todas as pessoas aptas a votar que quiseram participar do processo puderam escolher seus candidatos e exercer seu direito de voto, com a garantia da segurança de seus dados e de sua privacidade, por meio de um sistema já usado por diversas instituições de ensino do Brasil, o SigEleição. Sobre a manutenção deste modelo de votação em outros pleitos, cabe ao Conselho Universitário essa discussão.

A senhora faz parte do grupo que hoje está à frente da administração da Uern. É a atual chefe de gabinete da reitoria. O mandato da senhora será de continuidade apenas das ações e projetos hoje existentes, ou a senhora buscará inovar, corrigir eventuais falhas, avançar em pontos que não avançaram nos últimos anos?

Como pontuei em outras entrevistas, a gestão que se inicia em 28 de setembro de 2021 será liderada por Cicília e Chico, com novas metas, novas perspectivas e novos compromissos. Em cada novo ciclo de gestão, a universidade avança nos indicadores de avaliação, nas diferentes políticas institucionais, na construção cotidiana de uma gestão democrática, nas políticas de permanência estudantil, na inclusão, nas ações afirmativas, na democratização e transparência dos seus processos, na integração de tecnologias de gestão acadêmica e administrativas, na qualidade e expansão da graduação e da pós-graduação, nas ações de pesquisa e extensão, instituindo a marca de uma universidade plural e em constante inovação, em prol do desenvolvimento do Rio Grande do Norte.

A gestão que se inicia em 28 de setembro de 2021 será liderada por Cicília e Chico, com novas metas, novas perspectivas e novos compromissos.  

Quais são as prioridades da gestão Cícilia/Chico?

Para os próximos anos temos um conjunto de propostas e compromissos atentos às demandas da comunidade Uerniana e da sociedade em geral, e em total consonância com o Plano de Desenvolvimento Institucional da UERN (PDI/UERN/2016- 2026), com o Estatuto da UERN (2019), com o Plano Estadual de Educação (PEE/2015-2024), com o Plano Nacional de Educação (PNE/2014) e com a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) e seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS/ONU). Vamos manter o que está sendo positivo para nossa comunidade e vamos inserir pontos que consideramos extremamente importantes. Além da conquista da autonomia financeira, da autorização de novo concurso público, viabilização junto ao Governo do plano de cargos dos servidores, temos como prioridade também garantir que, dentro do modelo de autonomia aprovado pelo governo, seja respeitado um orçamento justo para a única universidade no âmbito do Estado do Rio Grande do Norte.

A Uern hoje representa apenas 3% do orçamento geral do estado. Como mudar isso?

Imagine apenas 3% de orçamento para uma universidade multicampi, presente em seis cidades, e que é a de maior atuação na formação de profissionais e cidadãos no interior do estado? Isso precisa ser revisto. Isso é valorizar a instituição. Com a garantia de um orçamento justo e que possa ser executado na íntegra, teremos como avançar na recuperação da infraestrutura de alguns campi, criação de novas estruturas de salas e laboratórios, além de criar mecanismos de investimento próprio em ensino, pesquisa e extensão. Somente assim conseguiremos manter e ampliar as ações da Uern junto à sociedade potiguar.

A senhora pontuou a autonomia financeira como uma das prioridades da gestão que se iniciará em setembro. Qual a primeira medida que será adotada quanto a essa pauta?

A autonomia financeira é a base para que possamos ter uma Uern maior e mais forte. Vamos solicitar à governadora Fátima Bezerra que, até o dia 28 de setembro, possamos ter pronto o anteprojeto de lei a ser entregue à Assembleia Legislativa. Não tenho dúvidas do compromisso da governadora e dos deputados estaduais com essa pauta tão importante para a universidade. Uma outra prioridade é a atuação pela valorização dos nossos servidores, com a luta pelo plano de cargos, carreiras e salários, assim como a criação de uma política institucional de capacitação e qualificação, além de ofertas de cursos de mestrado e doutorado. Já temos muitas ações neste campo, mas queremos ampliar.

A autonomia financeira é a base para que possamos ter uma Uern maior e mais forte. 

Quanto aos discentes, o que a senhora pretende executar?

Queremos construir uma universidade mais justa, forte e pautada na defesa dos direitos humanos, apostando também no fortalecimento da assistência e permanência estudantil. Desde o ano passado, superamos a marca de R$ 1,5 milhão em investimento só com o auxílio inclusão digital. Isso foi possível por meio da construção do diálogo e da busca de outras alternativas, como o Fundo Estadual de Combate à Pobreza (FECOP). Apostaremos em uma relação mais direta com a sociedade, por meio de parcerias que visem o desenvolvimento econômico do nosso estado reduzindo as desigualdades através da tríade ensino, pesquisa e extensão. Trabalhamos com uma Uern real, uma universidade grandiosa tomada de pessoas de muito valor, universidade que faz a diferença na vida de tantas e tantas famílias, uma universidade que é imprescindível para o desenvolvimento do estado, mas também uma universidade, como outras IES públicas, que têm muitos desafios e dificuldades. Para lidar com isso, temos muita coragem e disposição para construir as alternativas que são necessárias.

Uma gestão é feita por uma equipe. A reitora Cicília e o vice-reitor Chico Dantas já estudam os nomes que irão compor o mandato que se iniciará em setembro? Nomes da atual equipe devem ser mantidos nas funções, ou haverá uma ampla renovação?

Temos hoje uma equipe com profissionais qualificados e comprometidos com esta universidade. Da mesma forma, temos importantes profissionais em toda a instituição que, com certeza, terão muito a contribuir com os projetos pautados para os próximos quatro anos. Essa é uma discussão que vamos fazer até setembro, dialogando, avaliando e construindo coletivamente.

Como a nova gestão trabalhará o retorno das aulas presenciais? Há um plano de retomada em desenvolvimento ou já pronto para ser executado?

A universidade tem trabalhado este cenário com muito cuidado e seriedade. Não vemos condições de retorno às aulas presenciais enquanto não se possa garantir a segurança aos nossos servidores e estudantes. No que se refere às adaptações estruturais, de equipamentos, EPIs, para quando for possível o retorno presencial, nossas equipes já estão trabalhando neste sentido, em constante diálogo com o governo do estado para a aquisição dos materiais necessários. Tão logo tenhamos um cenário favorável, essa discussão será pautada em nossa comunidade. Por tudo isso é fundamental a defesa pela ampla vacinação de todos o mais rápido possível. Não podemos considerar normal continuarmos perdendo vidas enquanto já temos vacina para a população.

Não vemos condições de retorno às aulas presenciais enquanto não se possa garantir a segurança aos nossos servidores e estudantes.  

A senhora recebeu uma ligação da governadora Fátima Bezerra. O que foi conversado? Como será a relação da reitora Cicília Maia com a chefe do Executivo estadual?

Sim. A governadora manteve contato comigo parabenizando-nos (eu e Chico) pela expressiva vitória e garantindo o compromisso do respeito à vontade da comunidade acadêmica, com a nomeação daqueles escolhidos pela universidade. Nossa relação com a governadora é muito boa, desde sempre. A Uern tem sido parceira do governo em momentos importantes, como durante a pandemia, e o diálogo institucional é o melhor possível. A governadora Fátima Bezerra entende que não há como pensar em desenvolvimento social e justo no Rio Grande do Norte sem falar na UERN. Tenho certeza que faremos um ótimo trabalho.

Passada a campanha, qual a mensagem que a senhora deixa para os professores Paulinho e Adalberto, seus concorrentes no pleito?

Aproveito esse momento para agradecer aos professores Adalberto e Paulinho, e às professoras Maria José e Kelânia a oportunidade de debatermos o presente e o futuro da Uern em um processo legítimo e democrático. Passada esta fase, é hora de unir esforços pelo bem comum maior que é a nossa Uern. Somente juntos faremos uma universidade mais forte e justa.

Daqui a quatro anos, quando a senhora tiver concluído esse mandato à frente da Uern, qual legado a senhora quer ter deixado para a instituição?

Quero muito chegar aqui, após quatro anos, falando sobre a felicidade de termos conquistado a autonomia da universidade, o crescimento da Uern, com novos cursos, a melhoria de seus indicadores, e a consolidação de uma universidade includente e inclusiva, reforçando nosso papel de UERN socialmente referenciada como um espaço seguro, aberto e de visibilidade para atender aos anseios de uma sociedade plural. Ao final de quatro anos, espero chegarmos aqui comemorando os resultados de uma universidade que há 52 anos transforma a vida dos potiguares.

Caso queira acrescentar algo, fique à vontade.

Quero somente agradecer ao Jornal De Fato pelo espaço sempre aberto para falarmos sobre a Uern e seus projetos e ações junto à sociedade. Com a responsabilidade que temos, asseguramos que vamos trabalhar firme nos próximos quatro anos, junto aos segmentos acadêmicos, para consolidar o papel institucional e cidadão desta universidade. Em um cenário que ainda assusta, com a morte de muitas pessoas vitimadas pela Covid-19, é preciso reafirmar a confiança na educação e na ciência e defendê-las. A luta contra a Covid-19 é também uma luta contra a ignorância e desprezo pela vida. É uma luta pelo direito de viver. Não fujamos dela.